Transparências
Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, irriquieta na minha comodidade. Pinto a realidade com alguns sonhos, enxerto sonhos em cenas reais. Choro lágrimas de rir e quando choro prá valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto. Mas não me leve à sério, sei que nada é definitivo. Nem eu ou o que penso que eu sou. Nem nós ou que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol. Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem energia. Me esbanjo até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho.
Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços. Nem vou à missa. Mas faço simpatias, rezo prá algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo. Quando é impossível, debocho. Quando é permitido, duvido.
Não bebo porque só me aceito sóbria, fumo prá enganar a ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas. Não tomo café da manhã, não almoço, vivo de dieta e penso mais do que falo. E falo muito, geralmente no jantar. Nem sempre o que você quer saber. Eu sei.
Gosto de cara lavada – exceto por um traço preto no olhar – pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatoo no lado esquerdo das costas. Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo.
Esta e outras crônicas fazem parte do livro “Onde Não se Responde“, Claudia Letti – Editora Arte Clara
Tuas palavras traduzem a força que vem de ti, desafiando toda e qualquer vicissitude e revelam tua grandeza, de forma transparente, que te faz ser essa mulher admirável, com a coragem de ser e viver, simplesmente, aquilo que és.
Gente, tou passada!!! Encontrei 90% de mim nessa crônica.
Beijos!!!
Belissima acrededite se quiser não conhecia teu site e fiquei encantado com tuas palavras pois traduz a essência do que você é: Uma mulher maravilhosa que tive a oportunidade de cultivar uma grande amizade, parabéns, sucesso e felicidade.
Não tem muito que dizer: lindo! Simples assim…
Adorei Claudia,
Acho que todo homem deveia ler, é uma prova textual de que as mulheres são realmente um mistério, e que nenhum homem jamais vai conseguir entende-las… O melhor mesmo é aceitar essa diferença e respeita-las, amando simplesmente suas mudanças de humor e incostancia!!!
Parabéns…
como gostria de escreve assim :-), parabens
disse tudo do nada e o nada do tudo…da vida do amor do saber viver e acreditar que algo sério existe mas que a seriedade é duvidosa e o bom mesmo é deixar se levar pelas ondas do mar do vento e deixar se amar.
lindo.
Claudinha, vc é o que é, assim….bjo.
Achei seu texto muito bom. Suas palavras são encantadoras.
Obrigada, Clara. E volte sempre! 🙂
AMEIIII.
Bjo 🙂
Transcrevi um trecho seu em meu Instagram @livros_e_leitura e como sempre aparece alguém duvidando da autoria… ;/ , já respondi , inclusive indicando seu livro. Se tiver Instagram dá uma olhada na postagem 😉
Parabéns pelos seus belos textos! Amei e já quero devorar seu livro. Beijos
Atenciosamente
Carol
livroseleiturass.wordpress.com
Obrigada, Carol! ❤